quarta-feira, 7 de março de 2012

O mundo vai poder "mergulhar" na Grande Barreira de Coral

A Universidade de Queensland vai cartografar a Grande Barreira de Coral australiana para perceber qual o impacto das alterações climáticas. Graças a uma parceria com a Google, o mapa final ficará disponível na Internet.

O projecto Seaview Survey vai utilizar robôs submarinos e câmaras fotográficas especialmente concebidas para observar as profundezas ainda não exploradas da Grande Barreira de Coral, ao largo da costa nordeste australiana. O objectivo é fazer um "recenseamento visual instantâneo" de todas as formas de vida, em 20 locais ao longo dos 2300 quilómetros da Barreira de Coral.

Este pretende ser o primeiro estudo completo sobre a composição e o estado de saúde da Barreira de Coral a uma profundidade inédita (0-100 metros), diz a Universidade de Queensland. As imagens captadas, com alta definição, serão depois publicadas no site Panoramio da Google - que liga fotografias a locais - e poderão ser vistas através do Google Maps e do Google Earth, sites de cartografia. As imagens serão comparáveis às de um Google Street View no mar, funcionalidade que permite explorar as cidades e os locais turísticos do mundo inteiro.

Os cientistas querem perceber o impacto das alterações climáticas no maior recife coralino

"Ao utilizar técnicas numéricas para criar imagens a 360º, as pessoas vão poder mergulhar na Grande Barreira como se estivessem lá connosco", disse o investigador Ove Hoegh-Guldberg, coordenador do Street View. A Grande Barreira de Coral é o maior recife coralino do mundo, formado por 3000 sistemas e centenas de ilhas tropicais. Alberga, pelo menos, 400 tipos de coral, 1500 espécies de peixes e 30 de baleias e golfinhos.

A expedição da Universidade de Queensland, prevista para Setembro, vai ter um canal específico no YouTube que permitirá acompanhar as operações em tempo real. O principal objectivo é registar os recifes para, mais tarde, poder estabelecer comparações e medir o impacto das alterações climáticas, explicou o responsável pelo projecto.

Ove Hoegh-Guldberg espera ainda reunir dados sobre as profundezas inacessíveis, nomeadamente como se reproduzem os recifes coralinos a grandes profundidades (entre os 30 e os cem metros). Uma outra equipa, coordenada por Richard Fitzpatrick, biólogo marinho especializado em tubarões, vai concentrar-se na "megafauna" da Barreira de Coral (raias, tartarugas, tubarões) e sobre o impacto do aquecimento do oceano nos movimentos migratórios.

Os ensaios para testar os robôs, em 2011, já resultaram na identificação de quatro novas espécies de corais. Os cientistas esperam que permitindo que as pessoas "vejam de perto" a barreira, via Google e YouTube, se tornem mais conscientes das enormes mudanças que estão a ocorrer nos oceanos. 

ONU investiga danos

Uma das mudanças a verificar-se neste recife pode estar relacionada com a indústria mineira. De acordo com a BBC, uma equipa das Nações Unidas está desde o início desta semana na Austrália para investigar possíveis danos provocados na barreira pelos negócios de exploração de carvão e outros combustíveis. Os ambientalistas australianos receiam que um eventual aumento da produção de carvão - Queensland é o maior produtor australiano - e de tráfego dos navios possa afectar o estatuto de Património Mundial do recife. Por isso, pedem que o desenvolvimento desta indústria seja suspenso até que seja avaliado o actual estado do recife. A equipa da ONU vai visitar o recife e reunir-se com membros do governo antes de fazer qualquer recomendação ao comité do Património Mundial.

Fonte: Público